Quanto mais eu trabalho, me esforço, viajo, estudo, prego,
aconselho, visito, dirijo reuniões, vou dormir cada noite com o desejo que o
dia tivesse mais horas; mais eu encontro gente que, como se diz, “não quer nada
com a hora do Brasil”.
Gente que consegue fazer a mesma coisa todos os dias e nunca
a faz melhor; pessoas que pegam um trabalho já iniciado e sequer se esforçam
por completá-lo; gente que não limpa ou melhora o próprio local de trabalho,
que não se importa o mínimo quando algo se quebra ou estraga, que prefere
colecionar objetos estragados a consertá-los, opta por usar mais um copo limpo
a lavar um para tomar água.
O fato se dá com funcionários de aeroportos, hotéis, repartições
públicas, agências bancárias, consultórios etc. Quando a gente menos espera (e
as vezes quando mais precisa), fica de frente com um desses calaceiros.
Recentemente deixei o carro no estacionamento de um
aeroporto para uma viagem rápida. Ao retornar, verifiquei que, por ter
esquecido o farol ligado, a bateria estava descarregada. Imaginei que eu não
deveria ser o primeiro a sofrer este tipo de infortúnio e voltei ao terminal,
fui orientado pelo setor de informações a procurar uma das muitas pessoas que
transitavam no saguão com um colete exibindo a seguinte frase: “Posso ajudar?”.
Ao compartilhar meu problema ele me disse: “Aqui no aeroporto o senhor não vai
encontrar solução, vai ter que chamar ajuda de fora, não posso ajudar em nada”.
Observei que ele se afastou e se encostou num balcão e ali ficou. Comecei andar
e procurar algum setor que fosse útil e achei outra pessoa com o mesmo colete.
Arrisquei e expliquei também a ele minha situação. O senhor me conduziu até o
local apropriado no próprio saguão, não muito longe de onde estávamos, lá eu
obtive ajuda e, em poucos minutos, eu já estava saindo do estacionamento no meu
carro com a bateria já funcionando. Dois funcionários com o mesmo colete,
desempenhando a mesma função, no mesmo horário: um mandrião e o outro um
trabalhador honesto e digno.
No contexto empresarial, nas empresas de todos os portes, o
fato também ocorre. Às vezes é o empresário, o executivo, o diretor ou o
gerente, que se debruça em planilhas e resultados pretéritos e fica no escritório
ao telefone, na Internet ou só de papo com algum colega, esquecendo-se de que
sua empresa confia nele e o remunera para dedicar tempo e potencial em favor de
seu crescimento. Diretorias inteiras de empresas, optando por caminhos
aparentemente mais curtos e fáceis de serem percorridos, acabam perdendo sua
posição no mercado e, não poucas vezes, tendo até que deixá-lo.
A razão de tudo: Preguiça, muita preguiça!
Há uma epidemia de preguiça na sociedade contemporânea!
A preguiça faz a pessoa escolher sempre o caminho mais
fácil, o que dá menos trabalho, mesmo que não assegure resultados
compensadores. A preguiça faz a pessoa criticar o que seu antecessor fazia,
simplesmente para justificar sua inação. A preguiça leva a pessoa a abandonar
projetos e caminhos já iniciados, apenas para não ter que enfrentar o desafio
de aprender e crescer. Afinal de contas, é bem mais fácil e cômodo parar com um
projeto cuja continuidade coloca o líder na contingência de desenvolver novas
competências, do que encarar a própria limitação, assumindo-a e agindo na
direção de desenvolver novas habilidades para o bem da empresa ou da
corporação. A preguiça faz a pessoa estagnar e sua obra definhar! A preguiça,
por fim, emburrece.
Se na sociedade como um todo, e no mundo corporativo em
particular, a preguiça é devastadora, na igreja e na obra do Reino de Deus, é
fatal.
São pastores de tempo integral que só começam preparar o
sermão no dia anterior ao da pregação; líderes de ministérios que nunca reúnem
seus liderados, nunca planejam e, quando dão por si, o ano acabou e nada foi
feito.
Lembro-me de uma igreja onde fui membro que, no momento da
eleição da nova diretoria, reelegeu como diretor de evangelismo, um irmão que
não havia feito absolutamente nada no ano anterior. A justificativa foi a de
dar a ele a oportunidade para fazer algo, já que no ano anterior ele não
conseguiu fazer nada. Resultado: mais um ano sem evangelismo na igreja.
O mesmo se verifica em instituições do Reino, que patinam
sem sair do lugar há anos, unicamente pelo comodismo, falta de visão e preguiça
daqueles que as lideram. Perdem-se dinheiro, desperdiçam-se oportunidades,
frustram-se pessoas de alto potencial, enfim, o Reino perde, perde e perde.
Uma das coisas que alimenta a preguiça é a ilusão quanto à
durabilidade dos efeitos de vitórias no passado. A pessoa tem uma vitória em um
determinado tempo e fica o resto da vida querendo viver à sua sombra. A
preguiça tende a se instalar logo após um grande triunfo e, quando se instala,
impede que novas conquistas aconteçam.
Segundo a sabedoria de Provérbios, supramencionada, o
preguiçoso…
- Não é pró-ativo (“…Elas não têm líder, nem chefe, nem
governado…”);
- Não é previdente ( “…mas guardam comida no verão,
preparando-se para o inverno…”);
- Não tem prontidão em agir (“…Preguiçoso, até quando você
vai ficar deitado? Quando vai se levantar?);
- Vive perdendo oportunidades (“…o preguiçoso diz: “Eu vou
dormir somente um pouquinho, vou cruzar os braços e descansar mais um pouco.”).
Diz ainda que o preguiçoso, vítima da própria preguiça, sem
perceber…
Acaba em ruínas (…Mas, enquanto ele dorme, a pobreza o
atacará como um ladrão armado.” ).
Ao que parece, o preguiçoso está muito em desvantagem em
nosso tempo. Tanto o competitivo mundo corporativo, quanto as organizações
públicas e também as do chamado terceiro setor, elencam competências que o
desclassificam com facilidade.
Mesmo na igreja e nas agências do Reino, onde a carga de
misericórdia e a disposição em dar mais uma chance ao desleixado e mandrião, é
sempre grande; mesmo aí decresce a tolerância com os que só fazem peso e, como
já disse, “não querem nada com a hora do Brasil”.
Não é raro vermos gente com este perfil zopeiro dando
entrada no seguro desemprego e, depois, amargando temporadas sem encontrar
espaço no mercado de trabalho.
O oposto do preguiçoso é o laboriso, o devotado ao trabalho,
que trabalha duramente e é esforçado. Estes saem na frente e acabam
conquistando os melhores espaços.
Em nossas igrejas, instituições cristãs, agências
missionárias, colégios e faculdades evangélicas, hospitais e projetos sociais
cristãos, precisamos empreender uma luta contra o ostracismo, a tendência à
mesmice e à retaguarda, bem como à estagnação e ausência de progresso, tudo
isso provocado pela preguiça daqueles que as lideram ou nelas estão alocados,
especialmente em funções de nível gerencial, de direção e supervisão.
Não podemos mais tolerar em nossas organizações e nas
estruturas de nossas igrejas, pessoas que não querem crescer e, por isso, não
cooperam para que a Obra cresça. Gente enferma que não aceita remédio e
tratamento. Pessoas cheias de inveja, marcadas por vaidade, despidas de
humildade e contaminadas pelas tiranias da competição e do estrelato; que lutam
por cargos, mas não aceitam a missão; que brigam pelo que querem fazer, mas não
vibra com o que já foi feito por outros; que zelam por sua posição mas não se
dobram perante a Cruz do nosso Senhor. Gente que está mas não é; que aparenta
mas não tem; que fala mas não faz; que julga os outros mas não cresce.
Precisamos encontrar gente que de fato queira fazer o
trabalho, inová-lo, aprimorá-lo, ampliar seu escopo e sua abrangência; gente
que se realize no trabalho e não apenas com os proventos e benefícios dele
advindos; gente que, por trabalhar em agências do Reino, tem a visão de
ministério e, portanto, de excelência.
Gente que busca a sabedoria do alto, que sabe discernir
entre o ótimo e o excelente, que é digno do Evangelho, que se apresenta a Deus
aprovado, sem ter de que se envergonhar, que milita na medida exata das suas
forças, que não enterra talentos nem se vende por moedas de prata; gente que se
ajoelha para orar sem temer editais profanos, que cumpre a missão sem medo de
ser lançado no poço, que segue o modelo de Cristo sem receio de ser rejeitado
pelos homens.
É de gente assim que precisamos em nossas agências cristãs e
em nossas igrejas. Gente que não receia ter que encarar tribunais iníquos,
adversários medíocres, sistemas contaminados, soldados inimigos ainda que
vestindo a mesma farda, falsos profetas, pseudo-apóstolos. Precisamos de gente
pronta para caminhar de dia e de noite, no vale e na montanha, no meio das
massas ou solitariamente, gente apta para obedecer a Deus crendo no incrível,
vendo o invisível e ousando o impossível.
É de gente assim, sem preguiça e pronta para trabalhar em
favor do crescimento do Reino, sem trégua e sem comodismos, que a Obra de Deus
precisa. E vale lembrar a promessa do Senhor para os que não cruzam os braços e
não se acomodam, antes se esforçam e dão o máximo de si para que o trabalho
seja realizado com êxito e excelência:
“E o lavrador que trabalha no pesado deve ser o primeiro a
receber a sua parte na colheita.” (II Timóteo 2.6 – NTLH)
Agora, quando a preguiça prevalece… A ruína logo baterá à
porta. Faço eco com a Versão Revisada da Imprensa Bíblica Brasileira (de acordo
com os melhores textos em hebraico e grego – 1986 ):
“Vá ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos,
e sê sábio.” ( Provérbios 6.6 )
Por: Lécio Dornas em 17/05/2011 – 18:18