BULLYING – O argumento da força

Seguia na direção de Macaé, RJ, onde ministrei palestras sobre ensino no Seminário Batista da Associação local. Ia de carona com os pais de minha esposa, Cleveland e Heloíza. Eles dirigem o Colégio Batista de Maricá, RJ. Heloíza é educadora por toda sua vida, seu assunto favorito tem sempre a ver com ensino, escola, aluno, professor etc. No trajeto ela me perguntou sobre o Bullying e comentou sobre algumas leituras e participação em evento onde o assunto fora tratado. Conversamos então sobre o papel da escola e da família na inibição da violência entre as crianças.
Embora a temática da violência na escola não fosse nova, o conceito do bulying ainda não estava formado ou satisfatoriamente compreendido. Confesso que o tema me inquietou… Educadores são sempre inquietos. Resolvi fazer uma reflexão mais amiudada sobre o tema. O que segue porém, é apenas um começo de conversa, um texto básico e introdutório que tem como propósito chamar a atenção para esse fenômeno mundial de seríssimas implicações à vida.
O que é bullying
A palavra pertence à língua inglesa e tem significado abrangente em Português. Embora a tradução mais precisa seja ´intimidação´, vale lembrar que o termo tem na sua raiz a palavra bully ( valentão ), ou seja, a idéia do termo é um aluno ( ou mais de um ) assumindo esse papel de ´valentão´, imponto seu poder a outro ( ou outros ) através da força, da intimidação e da violência. Por isso, a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência – ABRAPIA, num de seus documentos define o bullying como “todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder.”
Pesquisas sobre bullying
Ao que parece as pesquisas mais sérias sobre o bullying começaram com o norueguês Dan Olweus, professor da Universidade de Bergen – Noruega, e foram realizadas de 1978 a 1993. Exatamente em 1993 aconteceu a primeira campanha nacional anti-bullying nas escolas norueguesas. Foram pesquisas abrangente e profundas, atingindo escolas, pais, professores e alunos. Os primeiros resultados desta pesquisa começaram a surgir em 1989 já mostrando que 1 em cada 7 estudantes já estava envolvido com situações de bullying.
Tudo leva a Crer que no Brasil as pesquisas sobre bullying começaram no Rio Grande do Sul, com a professora Marta Canfield, professora da Universidade Federal de Santa Maria. Ela adaptou um questionário de 25 perguntas elaborado por Dan Olweus e aplicou em quatro escolas públicas da sua cidade no afã de observar o comportamento agressivo dos alunos. Mais recentemente ( 2002 e 2003 ), em São José do Rio Preto, SP, um pesquisa envolvendo cerca de 2000 alunos, em oito escolas das redes pública e particular, revelou que 49% dos entrevistados estava envolvidos com o bullying.
Abrangência do fenômeno
O problema é muito mais sério do que se pensa. O bullying tem sentido extenso; desde o uso jocoso de apelidos e taxações verbais, passa pelo isolamento intencional imposto pela “turma”, transita por ameaças, intimidações, abusos, vandalismos com material escolar, agressões de todos os níveis; chega ao alijamento preconceituoso e doloso e até a atos de violência com repercussões graves para saúde da vítima. Além disso, a literatura mostra a os danos do bullying na vida do Agressor, da vítima e das testemunhas. É um problemas mundial que se verifica não apenas na escola, mas também no trabalho, na vizinhança, nos clubes enfim, em todos os ambientes de convivência comunitária. Pela observação podemos afirmar que até mesmo no contexto religioso das igrejas há manifestações do bullying, mormente expressos pelos abusos do poder, isolamento intencional, discriminação e atitudes preconceituosas.
Podemos dizer que onde o ser humano estiver em convivência com outros haverá sempre uma possibilidade de algum tipo de bullying. E isso se dá exatamente em função do nascedouro, berço deste comportamento doentio e perigoso.
Onde começa o bullying
Tudo começa na infância, no seio dos lares. Crianças que primeiramente são expostas a cenas de agressividade verbal e física, praticadas pelos pais e outros adultos na família. Muitos pais ainda não acordaram para a importância de poupar as crianças de certas conversas, discussões e brigas. E o que falar de comunidades carentes, onde desde cedo a criança convive com palavrões, imoralidades, armas, violência e até morte? No estágio seguinte, de expectadoras, as crianças passam a ser as vítimas de tais abusos; desenvolvem atitudes semelhantes que são evidenciadas na vizinhança e na escola. É a escola da violência começando nos lares.
A família que deve desempenhar o papel de estruturadora e formadora do caráter das pessoas, acaba por constituir-se na primeira escola de violência ao alimentar formas de bullying no seu seio. E isso não é de hoje, basta lembrar a relação entre Abel e Caim, José e seus irmãos etc. Tudo começa dentro de casa.
O conselho de Jesus
O antídoto foi apresentado por Jesus de Nazaré que, sendo assediado por crianças orientou seus discípulos dizendo: “Deixai vir os pequeninos a mim e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus.” O Mestre mostrou que o segredo para combeter e evitar todos os tipos de deformações e má formações na estrutura emocional, moral e posicológica das crianças é a convivência aberta, idalogal, carinhosa e sem qualquer tipo de impedimento. Criança amada, protegida e tratada com respeito e consideração, cresce saudável, mantém relacionamentos sadios e oferecem, ao crescerem cura, com suas suas próprias vidas e atitudes, para a sociedade.
De acordo ainda com as orientações de Jesus, a criança saudável e de crescimento desimpedidos é o modelo para uma vida adulta feliz e plena.
Deasafio para todos
Pais, educadores e líderes em geral devem estar atentos à presença do bullying. Ações educativas urgentes, inibidoras da violência, precisam ser ousadas em todos os meandros da nossa sociedade. Não podemos fechar os olhos ao que acontece à nossa volta.
A igreja não pode ficar de fora deste debate, tampouco se omitir diante deste fenômeno social que prejuízos de proporções tão gigantes representam à vida. Educadores religiosos precisam acordar para esta problemática. Quem sabe não seria este um bom tema para o próximo congresso dos Educadores Religiosos Batistas do Brasil a realizar-se em Brasília, em Janeiro de 2009? Quem sabe este assunto não merece ser incluído também no temário do Congresso dos Pastores?
Educar para a construção de relacionamentos saudáveis, para o preparo de pessoas solidárias e valorizadoras da vida em todas as suas menifestações. Esta é um tarefa a ser levada a efeito por todos: pais, educadores, pastores, líderes… É uma responsabilidade de todos nós.

Enfrentemos e vençamos mais esse gigante!